I’m not afraid, I was born to do this: Joana D’arc e Sarah Fier, os exemplos de como o patriarcado martiriza mulheres.
Como a santa francesa retrata a hipocrisia do sistema patriarcal através de sua luta pela Guerra dos Cem Anos e o que tem em comum com a Sarah Fier, personagem de "Rua do Medo: 1666".
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Na segunda parte dessa newsletter se tem uma referência a “Rua do Medo: 1666”, e contém SPOILER!!!!
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A Guerra dos Cem Anos se constrói de uma sucessão de conflitos entre França e Inglaterra por motivações econômicas, territoriais e políticas, tendo como principal objetivo o trono - O rei inglês Eduardo III reivindicou o trono francês, desencadeando o conflito. Sendo dividida em três fases não contínuas por ser afetada, especialmente, pela grande pandemia de Peste Negra, que se alastrava na época.
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Primeira Fase (1337-1360):
Ocorreram diversas vitórias inglesas, havendo a dominação do Canal de Mancha e da região de Flanders, além do Tratado de Brétigny.1
Segunda Fase (1369-1389):
D. João II, filho do rei francês, é sequestrado pelos ingleses. Marcada por uma recuperação francesa, com vitórias como a de Castillon, e períodos de trégua e negociações de paz.
Terceira fase (1415-1453):
A terceira fase emerge em conflitos internos como as chamadas Jacquerries, que eram as revoltas camponesas de feudos franceses. Inicia-se a disputa pela sucessão do trono inglês.
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Antes de falarmos de 1429, tempo qual Joana D’arc junta-se ao exército francês, é necessário entender as motivações e a mulher por trás do simbolo de santidade e resistência feminina.
Joana D’arc nasceu por volta de 1412, em um pequena vila chamada Domrémy, ao nordeste da França, sendo filha de agricultores e que cresceu em um ambiente de repleta religiosidade. Durante a sua adolescência, afirmava ter visões místicas com o Arcanjo São Miguel, Santa Margarida e Santa Catarina que lhes diziam seu dever em ajudar o futuro rei Carlos VII a libertar a França da ocupação inglesa.
Aos 17 anos, Joana foge de sua casa para se juntar ao exército frânces, de acordo com um artigo da Agência Brasil (órgão oficial de notícias do Governo Federal brasileiro) sobre a beatificação da jovem francesa, e ajudar o príncipe Carlos a legitimar-se como monarca.2
Também havia visto a guerra chegar ao seu quintal, na época em que Joana d’Arc decidiu lutar pela França, o reino enfrentava uma disputa pela sucessão do trono entre Carlos VII — filho e herdeiro do rei Carlos VI — e o rei inglês Henrique VI, que contava com o apoio do duque de Borgonha. Esse exército aliado controlava a região norte da França, onde ficava a vila em que Joana morava com sua família, além da cidade de Reims.
A França se encontrava em um estado de desespero, já se considerando a perdedora da Guerra dos Cem Anos, assim, Carlos VII aceita a oferta de ajuda de Joana D’arc como uma medida de desespero. Assim, em 1429 Joana parte com tropas francesas para Orléans, cidade tomada por ingleses desde 1428.
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Joana lidera diversas batalhas, mesmo ferida, convicta de sua fé e sendo guiada por Deus, fazendo o melhor para seu povo. Até que é sequestrada.
Logo após a coroação de Carlos VII, Joana D’arc é traída, torturada, esquecida e tratada como uma herege. Joana D’arc é tratada como uma bruxa, é queimada viva e descartada. Após seu julgamento com provas inexistentes, suas cinzas são jogadas no Rio Sena.
Mais de 450 anos depois, a igreja não reconhece seu erro ao trata-la como herege, por tirarem sua vida prematuramente aos 19 anos, mas a canonizam em 1920.
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Mais do que a história de uma santa, Joana D’arc representa como a sociedade patriarcal molda mulheres, determina seu destino, as negligência em momentos de precisão, não atribui seus feitos e ainda se apossa de suas histórias e memórias.
Paralelo a isso, têm-se em “Rua do Medo: 1666” a representação de Sarah Fier como uma jovem camponesa, que morava em uma pequena comunidade - que mais adiante conhecemos como a cidade de Shadyside - sendo julgada, condenada e morta por atos que não teve. Sarah Fier foi morta por supostamente fazer um pacto com o diabo e condenar os habitantes Shadyside. Na verdade, ela foi morta por ser lésbica (visto como um ato pecaminoso) e assumiu a culpa de um homem que havia de fato feito isso. Quão mais fácil se torna martirizar as mulheres?
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A diferença é que Sarah Fier é uma personagem ficcional. A arte nasce com o propósito de romper, emocionar e denunciar. Na minha perspectiva, a personagem se constrói no proposito de expressar as diversas entidades femininas que foram martirizadas e injustiçadas no passado. Mulheres que, assim como Joana D’arc, não tiveram sua real história respeitada e apresentada para as pessoas. Sarah foi tratada como uma bruxa, é apresentada aos telespectadores com tom de gozação, é linchada e tratada como a causadora e não a vítima.
A canonização de Joana D’arc significa um reconhecimento de sua servidão a igreja. Quanto ao reconhecimento de sua servidão social, tem-se a mulher tratada como herege, queimada em uma fogueira sendo um simbolo heroico para a atual França. Mas será que é o suficiente?
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O paralelo entre "Retrato de Uma Jovem em Chamas" e o Mito de Orfeu e Eurídice.
ㅤㅤ Orfeu, na mitologia grega, era um poeta e músico de talento extraordinário, cujo canto encantava homens, animais e até mesmo os deuses. Ele se apaixona por Eurídice, uma ninfa, e os dois se casam. No entanto, pouco tempo após o casamento, Eurídice morre picada por uma serpente
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Ele definiu novos limites territoriais e condições de paz entre os dois reinos, com a Inglaterra obtendo grandes extensões de terra na França.
O príncipe Carlos era um rei que não governava, como apenas um simbolo representativo, porque a Catedral em que ocorriam as coroações monárquicas estava sobre controle inglês. Como na época se tinha uma sociedade extremamente tradicionalista com os ritos monárquicos, Carlos não era considerado rei até a chegada de Joana D’arc.
que leitura boa de ser feita!
INCRÍVEL!!