A história de amor entre Vita Sackville & Virginia Woolf.
Como Virgínia Woolf e Vita Sackville-West teceram seu romance na representatividade de gênero - no amor, e na luta feminina.
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Adeline Virginia Stephen Woolf, ou somente Virgínia Woolf, nasceu em uma família intelectual e privilegiada. Seu pai, Sir Leslie Stephen, era crítico literário e historiador, enquanto sua mãe, Julia Stephen, era modelo e enfermeira. A casa dos Stephen era um centro da elite cultural vitoriana, frequentada por escritores e pensadores. Woolf recebeu uma educação refinada, mas informal, sendo educada em casa — ao contrário de seus irmãos, que foram enviados à universidade, refletindo as restrições impostas às mulheres da época.
Desde jovem, Virginia enfrentou traumas profundos: perdeu a mãe aos 13 anos e, dois anos depois, sua meia-irmã Stella. Sofreu abusos sexuais por parte de seus meio-irmãos George e Gerald Duckworth, experiências que marcaram profundamente sua saúde mental e sua obra.
No início do século XX, Woolf tornou-se uma das figuras centrais do Grupo de Bloomsbury, um círculo de intelectuais, artistas e escritores progressistas que desafiavam as normas sociais e defendiam liberdade sexual, feminismo e pacifismo.
Em 1912, casou-se com o escritor e editor Leonard Woolf. Juntos, fundaram a Hogarth Press em 1917, uma editora independente que publicou obras experimentais, incluindo textos de T.S. Eliot, Sigmund Freud e da própria Virginia.
Virginia Woolf revolucionou a literatura com seu estilo inovador. Abandonou as estruturas narrativas convencionais e adotou o fluxo de consciência, técnica que tenta capturar os pensamentos e sentimentos íntimos das personagens em tempo real.
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Vita Sackville-West nasceu na aristocracia britânica, herdeira de uma das mais antigas famílias nobres da Inglaterra. Cresceu em Knole House, uma imensa mansão do século XV que inspiraria sua profunda ligação com o passado e com a paisagem inglesa. Apesar de seu apego à propriedade, como mulher, ela não pôde herdá-la devido às leis de primogenitura masculina, o que foi uma ferida emocional duradoura — e tema recorrente em seus escritos.
Desde jovem, Vita demonstrou interesse por literatura e escreveu seus primeiros romances ainda adolescente. Casou-se em 1913 com o diplomata e escritor Harold Nicolson, com quem teve dois filhos. Embora fossem um casal muito unido, mantiveram um casamento aberto1, e ambos tiveram relacionamentos homossexuais extraconjugais — algo incomum, mas aceito entre os círculos liberais da elite intelectual inglesa.
Vita Sackville-West foi poeta, romancista, jornalista e jardineira. Escreveu dezenas de obras — romances históricos, contos e poesias — e ganhou prêmios como o Hawthornden Prize (duas vezes). Suas obras frequentemente exploram temas como o amor, o tempo, a natureza e o papel das mulheres na sociedade.
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Virginia e Vita se conheceram em 1922, durante um jantar promovido por amigos em comum do Grupo de Bloomsbury, do qual Virginia fazia parte. Vita, elegante, nobre, confiante e abertamente bissexual, causou forte impressão em Virginia, que era mais reservada, introspectiva e tímida. Apesar das diferenças de classe, estilo de vida e personalidade, surgiu rapidamente uma atração mútua, tanto física quanto mental.
Vita, mais extrovertida, iniciou o romance. Virginia, que até então só tivera experiências heterossexuais, se sentiu ao mesmo tempo intimidada (levou bastante tempo para que o romance entre as duas escritoras se tornasse sexual, alguns estudiosos justificam pela violência sofria por Viginia, o que a deixou relutante) e fascinada pela energia e liberdade de Vita.
Vita admirava a escrita de Virgínia - mesmo que não tão valorizada na época por conter críticas satíricas e ser abertamente de esquerda, o que já desencadeou desentendimentos entre as amantes, por Vita não reconhecer seus privilégios e não deter o sentimento de justiça social.
O romance amoroso entre elas floresceu entre 1925 e 1928, embora tenha durado emocionalmente por muitos anos (durando quase uma década). A troca de cartas entre as duas é uma das correspondências mais belas e íntimas da literatura. Vita escrevia cartas apaixonadas, enquanto Virginia se deixava levar por um sentimento profundo, embora mais contido.
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Virginia escreveu a Vita em 1927:
“Eu te sinto em meus ossos, em minha pele. Você se tornou minha paisagem, meu mundo.”
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Apesar do fim do romance sexual, a amizade e a admiração mútua continuaram. Vita foi uma presença constante na vida de Virginia, inclusive quando esta enfrentava crises de saúde mental.
Virgínia Woolf compôs algumas obras literárias inspiradas no romance, como “A Onda” e o mais conhecido:
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“Orlando” – Uma homenagem literária
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Virginia para Vita – sobre “Orlando”
“Orlando é você, claro — com um pouco de fantasia.
Mas na verdade é minha forma de te manter perto de mim quando não posso tocar sua mão.
É o meu presente, minha brincadeira e minha confissão.”
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Não somente explicitamente dedicado a Vita, o livro descreve o ponto de vista de Orlando, um homem que em meio há uma viagem pela Turquia, acorda em um corpo feminino. Orlando é uma metáfora a Vita, não somente como se portava, mas Virgínia documenta avidamente traços da transexualidade de Vita, assim, Orlando uma das primeiras obras literárias a tratar de transexualidade - mesmo antes dos termos serem bem definidos. Vita expressava, em cartas e em comportamento, desejos profundos de masculinidade e rejeição de certos papéis femininos. Ela usava roupas masculinas, assumia personas masculinas com suas amantes, e chamava a si mesma de “Julian” em certas correspondências. Em cartas a Virginia, dizia coisas como:
“Queria ter nascido homem. Tenho dentro de mim algo que não é mulher”.
“Orlando” é, portanto, uma tentativa de Woolf de traduzir literariamente a vivência ambígua e híbrida de Vita — alguém que amava profundamente sua feminilidade, mas que também desejava o privilégio, a liberdade e a identidade do masculino.
Certamente o relacionamento das duas foi muito mais intenso do que se pode ser documentado, Vita era uma grande admiradora de Virgínia e, felizmente, conseguiu conquista-la. Após a morte de Virgínia, Vita ficou extremamente abalada - já fazia algum tempo que não eram mais amantes - assim, contribuiu com a cuidar da memória de Virginia com respeito e, mais tarde, colaborou com Leonard Woolf na divulgação de seu legado.
Virginia disse certa vez que Vita foi “a única mulher que já a fez se apaixonar de verdade”. Já Vita, anos depois, admitiu:
“Nunca mais encontrei ninguém como ela. Nem antes, nem depois.”
Vita & Virgínia são a demonstração de um romance que perdurou por alguns anos e que resultou em grandes autoras, grandes obras e registros históricos sobre a comunidade queer.
Oii pessoal!!
Escrevi essa newsletter quando assisti “Vita e Virginia”, toda vez que assisto algum filme que me fascina muito, costumo ficar muito possessa e consumir o máximo de conteúdo possível. Tentei trazer uma mescla do que consegui reunir sobre a relação de Vita e de Virginia, mas sempre vale a pena buscar maior conhecimento. Infelizmente, como sou uma vestibulanda sofrida, ainda não tenho tempo para ler Orlando.
Espero que gostem!!
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Um exemplo disso, foi o relacionamento entre Vita e Violet Trefusis viveram um romance intenso e conturbado no início do século XX, marcado por paixão, conflitos e pressões sociais. Ambas eram escritoras e aristocratas, e sua relação inspirou diversas obras literárias. Apesar de casamentos com homens e tentativas de se afastar, mantiveram uma ligação emocional profunda por muitos anos. Elas fugiram juntas e passaram um tempo em Paris, até Vita ser obrigada a voltar.