Irremediavelmente, o amor é feminino.
A intimidade de ser entendida, uma habilidade feminina de entender a si mesma e a outras mulheres.
O Amor Tecido em Vozes Femininas.
Por muitas vezes me peguei pensando, o quanto nossos padrões são construídos desde a infância visando um amor perfeito, de alguém que nos ame profundamente, respeite quem somos além de nossos corpos e idealize quem somos a ponto de conhecer intimamente nosso interior. Entretanto, contrariamente, crescemos também consumindo conteúdos criados por mulheres, feitos por mulheres. Vemos o amor do ponto de vista feminino, consumimos nosso próprio modo de amar e buscamos incansavelmente suprir algo que existe em nós mesmas, em outros.
A melhor forma de traduzir esse sentimento pra mim é usar da Jo March1, de Little Women. O monólogo que tanta atenção e que consegue traduzir exatamente o que quero também transmitir a você.
“Mulheres têm mentes e almas, além de apenas corações. E elas têm ambições e talento, além de beleza. Cansei de ouvir que, à mulher, cabe apenas o amor. Cansei disso.”
Incansavelmente me peguei pensando, os homens literários, os romances ficcionais, as tramas românticas que eu mais amo foram criadas, roteirizadas por mulheres, de mulheres para elas. Intimamente, sinto que somos uma camada extremamente complexa de hormônios, pele, órgãos e muitos, muitos sentimentos, que vão desde os primórdios do patriarcado, da violência e do contexto extremamente misógino e estereotipado que nos colocam, até os relacionamentos em que não conseguem suprir nossa expectativa.
Esse texto não é lesbocentrado mas poderia ser, porque homens amam homens, sempre amaram. A masculinidade é algo irreverente a eles, tal qual a conclusão de que se você colocar sua mão em uma fogueira, ela queimará. Muitas vezes, nos apegamos ao pouco que uma relação poderá nos oferecer, as mulheres ocupam na vida dos homens o papel de concertar algo que está quebrado, reconstruir algo que é incluso neles por uma construção social ou talvez algum trauma, não sei, sempre tive pouca paciência com homens.
Nós, seres humanos, somos seres dependentes para o suprimento nutritivo, para nos desenvolver, para nos reproduzir e, também para nos relacionar. Somos originalmente animais políticos, criados para sermos coletivos e vivermos em comunidade como um todo. Irremediavelmente, assim como o amor é feminino, uma construção social acaba se enraizando intrinsecamente na história de um país e paradigmas sociais só são ressaltados com o passar do tempo.
Se pudesse dizer, pra mim o amor mais puro e inquestionável, do que me faz desejar estar apaixonada e ser correspondida é “Retrato de Uma Jovem em Chamas2”, esse realmente é sáfico mas que, convenhamos, é uma das maiores obras cinematográficas. O amor é além do físico, da aparência e do desejo, não é somente admiração e fascínio, talvez seja um pouco de tudo ou quase nada e algo completamente diferente, infelizmente, não tenho como descrever a você.
Em alguns momentos realmente me pergunto se a vida é se frustrar por não ser entendida e compreendida, não somente pelo cônjuge ou namorado mas socialmente falando. Somos criados com funções diferentes, éramos criados como prole e seu dono, como um troféu inútil destinado ao serviço doméstico. Qual será o momento que estaremos realmente na mesma posição? Ou se um dia estaremos, como uma pessoa que liga muito pra política, não consigo ver um contexto social onde um relacionamento não seja afetado pela diferença entre direitos políticos de gênero.
Inevitavelmente me sinto exatamente como a Jo (por favor, se você gosta de Laurie e Amy, eu também gosto) mas sinto que a Jo e o Laurie seriam exatamente como almas gêmeas, uma laranja cortada ao meio, até aquela teoria do Romã. A Jo teve medo e perdeu alguém que faria de tudo por ela, todas as coisas possíveis e impossíveis por achar que não seria compreendida, por achar que seria aprisionada, por temer ter que escolher entre seu sonho de escritora e suprir o que a sociedade inglesa da época exigia. Eu também já fiz isso, hoje não sei se me arrependo por ter recuado e recusado, o interesse surge antes do receio e do medo e em mim ele costuma permanecer e falar mais alto.
Queria dissertar sobre isso de forma consciente, isso obviamente não é um ataque a homens ou a relacionamentos heterossexuais mas é um ataque a homens fingidos, que fingem ser o que não são, que buscam controlar suas parceiras, que querem ser exatamente um espelho do que significa uma masculinidade tóxica e agressiva. Sinto muito se você já passou por isso, a culpa nunca vai ser sua, infelizmente nossa realidade é cruel e difícil.
Muito obrigada por me lerem, pela oportunidade do meu newsletter, ninguém cabe em estereótipos idiotas.
Nós somos infinitamente melhores.
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Jo March, a personagem central de "Mulherzinhas" de Louisa May Alcott, é conhecida pela sua personalidade forte, independente, e rebelde. Ela é ambiciosa, sonhadora e com grande paixão pela escrita, desafiando os padrões sociais da época para mulheres. Jo é também carinhosa, leal e atenciosa, especialmente com a sua família
Na França do século XVIII, Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora que recebe a tarefa de pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) para seu casamento sem que ela saiba. Passando seus dias observando Héloïse e as noites pintando, Marianne se vê cada vez mais próxima de sua modelo conforme os últimos dias de liberdade dela antes do iminente casamento se veem prestes a acabar.