Sinto que ninguém vai me amar como a minha mãe.
Entre memórias, ausências e gestos invisíveis, o amor materno nem sempre grita — às vezes, ele sussurra em pequenos atos.
Repasso constantemente alguns momentos da minha vida, nostálgica e saudosamente cada mínima memória. Nenhuma vida é feita somente de bons momentos, nenhuma infância é feita apenas de coisas lindas que a ingenuidade e a criatividade podem proporcionar. Mas eu sempre tive a minha mãe. Idem a erros, a conflitos, a problemas, ao sentimento dela como mulher. Ela sempre foi Mãe, com o m maiúsculo para simbolizar o quanto ela foi excepcional - e ainda é.
Com minha mãe, aprendi a valorizar pequenos momentos, pequenas demonstrações de amor que mostravam o quanto ela me ama e se importa comigo - a minha mãe nunca foi do estilo de toque físico, de beijos e abraços, então de certo modo, não senti muita falta porque não cresci cercada, somente com meu pai. Me lembro vividamente, consigo até me sentir presente nessa memória, de quando ainda era pequena e acordava muito cedo para ir a escola, meu chuveiro elétrico havia quebrado e não regulava a temperatura e a minha mãe enchia uma mini bacia de água quente com uma chaleira para me dar banho.
Parece algo tão banal mas me pego fielmente pensando, quem além da minha mãe faria isso por mim? Ter tamanha atenção e paciência, doar a si mesma pela sua filha.
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Não é fácil perceber que sua mãe não é tão expressiva, não é tão carinhosa quando somos criadas em um modelo que molda mães que dirigem muitas palavras afetuosas, ou se expressam ativamente com o toque físico. Por um bom tempo, essa questão mexia um pouco comigo, de forma bem íntima que poucas vezes eu já cheguei a externalizar. Mas quando envelhecemos e podemos olhar para trás, percebemos que em pequenos atos ocultos, ações se faziam mais presentes que quaisquer palavra de afeição. Entretanto, acho que é óbvio que valorizo cada mínimo gesto afetivo.
Minha avó materna - que veio a falecer dois anos antes do meu nascimento - teve seis filhos, a data da minha família sempre irá variar entre o Natal e o São João. Especialmente sobre o São João, minha tia mais nova contava que minha avó cultivou o hábito de levar os seis para olharem as fogueiras de São João pela cidade de ônibus. Então eles percorriam toda a cidade.
No outro artigo chamado “Irremediavelmente, o amor é feminino”, concordo fielmente comigo mesma de que, o amor entre mulheres é diferente. Composto e cheio de camadas, a relação de maternidade é assim.
Acho incrível como a internet possibilitou a discursão sobre a normalização da não romantização da maternidade - que, obviamente, sem uma boa rede de apoio e condições boas - pode acabar frustrando a mãe e a sua experiência quanto a maternidade.
Minha mãe nunca me responsabilizou por seus erros, nunca me culpou por, talvez, ter roubado seus sonhos, nunca me culpou pelos seus fracassos e, nunquinha mesmo, agiu com egoísmo comigo como mãe. Mas minha mãe já me direcionou palavras duras, de desafeto, já negligenciou seu estresse de trabalho em mim. E, nesses momentos, o melhor que consigo fazer é diferenciar o nosso relacionamento entre uma mãe e uma filha e duas pessoas que só se cansaram durante um dia estressante. Nunca tento diminuir meus sentimentos ou o quanto eles me feriram, porque obviamente, estaria invalidando uma parte de mim.
Além de mãe, uma mulher, uma profissional que buscou sempre - e conseguiu - equilibrar as suas três responsabilidades. Sinto que as mulheres sempre abdicam de si, idem a como vão trabalhar, com quem, se irão ser mães, como irão se comportar profissionalmente. Sempre são as mulheres que perdem algo. Mães perdem sua liberdade, de certa forma.
Mas no fundo, espero que minha mãe não tenha precisado abdicar muito de si, nem muitos de seus sonhos, porque isso me pesaria muito.
Olá,
espero que essa newsletter te encontre bem!
Esse texto foi mais intimista porque passei um bom tempo pensando sobre isso, minha mãe faz aniversário em abril e desde então fiquei relembrando esse momento banal da bacia. Agradeço muito a Deus por tê-la em minha vida.
Muito obrigada por ler! ;)
que texto tão lindo 😭😭🤍